Lúcia, molestada com semelhante pressa, respondeu de mau humor que — mais tarde daria uma resposta... O marido ia sair para buscar dinheiro!
O criado retirou-se, e ela foi logo, muito zangada, despertar Pereira com um violento empuxão.
— Você é uma lesma! exclamou. — Põe-se a dormir desse modo, e cá fico eu para me haver com as contas!
— Que contas?... perguntou o homem, esfregando os olhos pachorrentamente e escancarando a boca.
— Que contas! A conta de casa! a conta do que você e eu.
— Deixa disso, nhanhã...
— Que contas! A conta da casa! A conta do que você e eu comemos!
— Havemos de ver isso...
— Havemos de ver, não! Que é preciso resolver qualquer coisa! O homem quer dinheiro; não me larga a porta!
E, puxando-o por um braço:
— Você não me ouve?! berrou a mulher, desfechando-lhe um murro nas costas. — É preciso que lhe dê com os pés para o acordar, seu burro?!
Pereira não fez caso e tornou a aninhar-se na cama, encolhendo as pernas e os braços.
— Não me amole! tartamudeou ele, sem voltar o rosto. Lúcia, que já se não podia conter, saltou-lhe ao gasganete e encheu-lhe a cara de bofetões.
Pereira ergueu-se num pulo, e, muito estremunhado, olhou sério para a mulher:
— Ora vamos lá!... disse, e começou a espreguiçar-se, retesando os braços.
— Diabo do sem-préstimo! resmungou a outra com desprezo, enviesando a boca e cuspindo o olhar por cima do ombro. — Não tem um vislumbre de brio naquela cara!