— Já trouxeram o café?... perguntou o sem-préstimo, cuidando de lavar o rosto e os dentes.
Lúcia respondeu-lhe com uma injúria e saiu do quarto arremessando a porta; mas reveio logo e gritou em tom de ordem:
— Vista-se já e ponha-se em caminho, que é preciso arranjar dinheiro!
Pereira vestiu-se demoradamente, sempre a abrir a boca, depois seguiu para o primeiro andar no seu passo miúdo, os braços a jogarem-lhe num movimento pendular, como se os tivesse seguros à omoplata apenas por um atilho. Tomou o seu café com leite e o seu pão com manteiga e foi espaçar para a chácara, à espera do almoço.
A mulher seguiu-o e, logo que o alcançou, bateu-lhe no ombro:
— Então você não se avia, criatura?! você não vê que o homem quer dinheiro e que estamos ameaçados de ir para o olho da rua, seu Pereira?!
— Mas, que hei de eu fazer, nhanhã?...
— Ponha-se em movimento! Vá aos seus parentes, vá aos seus amigos, vá ao inferno! contanto que arranje alguma coisa para tapar a boca daquele judeu! Não me volte de mãos abanando, porque não lhe abro a porta do quarto, percebe?! Você bem sabe que, se bem o digo, melhor o faço!
E, vendo que Pereira não se mexia:
— Então?
— Mas eu hei de sair sem almoçar nhanhã?...
— Pois vá lá! Almoce. Mas é engolir e pôr-se a andar!
— E dinheiro para o bonde?
— Quê? Você já gastou os cinco mil-réis que lhe dei anteontem?!
Pereira explicou que os havia gasto contra a vontade,