— Pois olhe, ninguém o acreditaria!... disse ele voltando, afinal, do seu espanto e pousando o livro sobre o velador.
— Por quê? interrogou Lúcia muito séria e muito dura defronte do rapaz.
— Ora, porque!... porque já não há quem a veja! porque a senhora arribou deste quarto, como se aqui alguém lhe quisesse fazer mal!
Ela respondeu com um sorriso de tristeza e um resignado sacudimento de cabeça.
— Os fatos, pelo menos, assim o afirmam... acrescentou o doente.
— Mas, valha-me Deus! tornou a outra. — Pois não vês a perseguição que sofro aqui por tua causa?! Não vês que estou espiada, seguida e vigiada a todos os instantes! Não vês o ciúme que Mme. Brizard, Coqueiro, a tal Amélia, Nini, o diabo! afetam por ti?!
— O ciúme?... perguntou Amâncio, deveras espantado. — Mas o ciúme, como? por quê?
— Criança!... disse ela. E passou a mão na testa. — Estás na aldeia e não vês as casas!
— Eu?!
— Sim tu!
E, assentando-se à beira da cama, para lhe ficar mais perto, continuou diminuindo o tom da voz:
— Pois não percebes, filho, que toda esta gente quer fazer de ti uma propriedade sua; que esta gente te considera um tesouro precioso e teme que lho furtem? Não percebes, meu Amâncio, que há aqui um plano velho, tramado para te fazer casar com Amelinha, isso porque és rico e, na tua qualidade de homem de espírito, pouca importância ligas ao dinheiro?!...
— Não! Dou-te a minha palavra em como, até aqui nada percebia de tudo isto!...