— Pois fica, então, sabendo que há uma grande conspiração contra ti ou, por outra, contra os teus bens!
— Ora essa! disse ele em voz baixa.
— Todos esses carinhos que eles ostentam, todos esses cuidados e desvelos, artísticos, são laços armados à tua ingenuidade!
— Estão bem arranjados!... respondeu Amâncio, — se esperam que eu case com Amelinha!
— Não sejas hipócrita!... acudiu a outra. — Tu gostas dela; não negues!
— Ah! gosto, não nego. Mas gosto, sem intenção de espécie alguma; gosto, coitada, porque ela nunca me fez mal, porque até lhe sou grato aos seus obséquios! Mas daí para casar!...
E, depois de um assovio de grande esperteza:
— Não é o meu tipo, o meu ideal. Demais, ainda não penso em casamento, nem sei se algum dia pensarei nisso!
— Por quê?
— Ora, respondeu ele — não vale a pena a gente se casar! Há por aí tanta desgraça, tanta decepção que, para falar com franqueza, não tenho ânimo...
— Julgas assim tão mal as mulheres?...
— Com franqueza, é exato, filha! Não digo que não haja mulheres virtuosas; isto, porém, é tão raro!... Prefiro não arriscar!...
— Desconfio de tanto ceticismo na tua idade!
Ele agitou os ombros.
— Um homem com esses princípios é incapaz de amar... ajuntou ela.
— Tens em mim a prova do contrário... retorquiu Amâncio sorrindo.
— Em ti?...
— Sim, e sabes disso perfeitamente!
— Disso, o quê?