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O PLAGIO
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ples «bom dia» enxergava rizinhos de mófa. O proprio capitão Prelidiano, cavalgadura honestissima, incapaz d'uma ironia, afigurava-se o chefe da malta.

Conspiravam contra elle, não havia duvida.

Pôz-se em guarda. Fugiu aos amigos. Deu cabo do matte domingueiro. Não podia siquer ouvir falar em literatura, o assumpto dilecto de tantos annos. Emmagreceu.

D. Eucharis, pensabunda, matutava:

— Serão lombrigas?

E deu-lhe chenopodio, ás occultas.

***

— Afinal...

— Afinal?. E' o diabo ser a vida tão pouco romantica como é! Os casos mais interessantes descambam a meio para o mais reles prosaismo. Este do Ernesto d'Olivaes, por exemplo. Merecia um fim tragico, duello ou quebramento de cara. Quando nada, uma remoçãozinha a pedido.

Mas seria inentir. Nem toda a gente encontra como elle um remate de estrondo á mão.

E' o caso deste caso.

Ernesto adoeceu, mas sarou. O chenopodio revelou-se um porrete para o seu mal. Depois, com o de correr do tempo, esqueceu o plagio. Os amigos esqueceram o «Never more». O «Lyrio» morreu como morrem «Lyrios», «Dahlias» e «Chromos»: calote na typographia. Ernesto engordou. Já é major. Tem seis filhos.

Continua a «fazer literatura» -- clandestinamente embora. E se encontrar a talho um novo final de estrondo, plagiará de novo.

Moralidade ha nas fabulaş. Na vida, muito pouca, ou nenhuma...