Página:Cinematographo.djvu/27

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Houve um trilo de flauta como um trinado de pássaro, o bumbo reboou, caiu num choque de pratos, e de um pulo surgiu no meio do palco a princesa Verônica. Era magra, desossada, com a face afiada das divindades egípcias. Sorrindo, mostrava os dentes irregulares, e tinha a cor das múmias, como se a sua pele fosse queimada por lentos óleos bárbaros. Vestia meias de seda cor de carne; os pés, enluvados de branco, de tão finos e minúsculos recordavam a graça dos lírios a desabrochar, e o seu corpo de serpente ondulava dentro de um estojo de lantejoulas de prata.

- É uma crioula!

- Da Jamaica, filha de um velho rei índio...

Bizarre déité, brune comme les nuits,
Au parfum mélangé de musc et de havane
Oeuvre de qualque obi...

O barão citava Beaudelaire, o barão amava!

Verônica bateu as pálpebras, abriu os olhos luxuriosos, e numa reviravolta, adejou. A multidão inteira ofegava, com a alma presa àquela visão de sílfide perversa. Não era o bailado clássico das dançarinas do Scala e da Ópera, com violências de artelhos e sorrisos pregados nos lábios, não era o quebro idiota das danças húngaras ou a coréia álacre dos bailes ingleses - era uma dança inédita. Havia no seu meneio