Página:Cinematographo.djvu/28

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a graça das aves, no sorriso a volúpia de um outro mundo, no langor com que abria os braços, o delíquio da paixão. Os grossos diamantes que lhe escorriam dos lóbulos pareciam aquecer-se na sua pele ardente: as flores, presas à carapinha de negra, aureolavam-na de desmaios de púrpura. Ela flutuava, pássaro, serpente lendária, adejando num esplendor de prata.

- Oh! O barão deu agora para o exotismo. Essa Verônica é uma preta como outra qualquer, que se intitula princesa.

Calei-me porém. O barão falava, sussurrava as frases da sua admiração.

- Como ela dança! A dança é tudo, é o desejo, a súplica, a raiva, a loucura... Ela dança como uma sacerdotisa, como uma estrela perdida nas nuvens. Tem desde o salto poderoso das feras até o vôo medroso das pombas. Há nos seus gestos a orgia sanguinária de uma leoa e a maravilha constelada de uma ave do paraíso. Ao vê-la recorda a gente Salomé diante de Herodes, dançando a dança dos sete véus para obter a cabeça de São João; diante deste ondear de vida que no ar se desfaz em sensualidades, sonha-se o tetrarca de Wilde, ébrio de amor: "Salomé! Salomé! Os teus pés, a dançar, são como as rosas brancas que dançam sobre as árvores!"

Verônica terminara o bailado, toda ela rodopiante, desaparecida do halo argênteo do saiote,