Eu te amo, ó Lua pallida,
Vagando em noite bella,
Rompendo as nuvens turbidas
Da ríspida procella;
Eu te amo até nas lagrimas
Que fazes derramar.
Noite, melhor que o quem, dia não te ama!
Quem não vive mais brando em teo regaço!
Filinto.
Eu amo a noite solitaria e muda,
Quando no vasto céo fitando os ollios,
Alem do escuro, que lhe tinge a face,
Alcanço deslumbrado
Milhões de sóes a divagar no espaço,
Como em salas de esplendido banquete
Mil tochas aromaticas ardendo
Entre nuvens d’incenso!
Eu amo a noite taciturna e quêda!
Amo a doce mudez que ella derrama,
E a fraca aragem pelas densas folhas
Do bosque murmurando:
Então, máo grado o véo que involve a terra,
A vista do que vela enxerga mundos,
E apezar do silencio, o ouvido escuta
Notas de ethereas harpas.
Eu amo a noite taciturna e quêda!
Então parece que da vida as fontes
Mais faceis correm, mais sonoras soão,
Mais fundas se abrem;
Então parece que mais pura a brisa
Corre, — que então mais funda e leve a fonte
Mana, — e que os sons então mais doce e triste
Da musica se espargem.