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Página:Collecção de autores portuguezes (Tomos I-IV).djvu/209

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Eu amo o leve odor que ella diffunde,
E o rorante frescor cahindo em per’las,
E a magica mudez que tanto falla,
       E as sombras transparentes!

Oh! quando sobre a terra ella se estende,
Como em praia arenosa mansa vaga;
Ou quando, como a flôr d’entre o seo musgo,
       A aurora desabrocha;
Mais forte e pura a voz humana sôa,
E mais se accórda ao hymno harmonioso,
Que a natureza sem cessar repete,
       E Deos gostoso escuta.





A TEMPESTADE.



Fervescere faciet, qua si ollam,
profundam mare.
Job. 41, 42.



I.


De côr azul brilhante o espaço immenso
Cobre-se inteiro; o sol vivo luzindo
Do bosque a verde coma esmalta e doira,
E na corrente dardejando a prumo
Scintilla e fulge em laminas doiradas.
Tudo é luz, tudo vida, e tudo cores!
Nos céos um ponto só negreja escuro!

Eis que das partes, onde o sol se esconde,
Brilha um clarão fugaz pallido e breve:
Outro vem apoz elle, inda outro, muitos;
Succedem-se frequentes, — mais frequentes,
Assumem côr mais viva, — inda mais viva,
E em breve espaço conquistando os ares
Os horisontes co’o fulgir roxeião.