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VIII.

Devera, sim; mas pensava,
Que de mim t’esquecerias,
Que, sem mim, alegres dias
T’esperavão; e em favor
De minhas preces, contava
Que o bom Deos me acceitaria
O meo quinhão de alegria
Pelo teo quinhão de dôr!

IX.

Que me enganei, ora o vejo;
Nadão-te os olhos em pranto,
Arfa-te o peito, e no entanto
Nem me podes encarar;
Erro foi, mas não foi crime,
Não te esqueci, eu t’o juro;
Sacrifiquei meo futuro,
Vida e gloria por te amar!

X.

Tudo, tudo; e na miseria
D’um martyrio prolongado,
Lento, cruel, disfarçado,
Que eu nem a ti confiei;
«Ella é feliz (me dizia)
«Seo descanço é obra minha.»
Negou-m’o a sorte mesquinha.
Perdoa, que me enganei!

XI.

Tantos encantos me tinhão,
Tanta illusão me afagava
De noite, quando acordava,
De dia em sonhos talvez!
Tudo isso agora onde para?
Onde a illusão dos meos sonhos?
Tantos projectos risonhos,
Tudo esse engano desfez!