Página:Collecção de autores portuguezes (Tomos I-IV).djvu/76

Wikisource, a biblioteca livre
48

AMOR! DELIRIO — ENGANO.


Y el llanto que en su cólera derama,
La hoguera apaga del antiguo amor!
Zorrilla.

Amor! delirio — engano... Sobre a terra
Amor tão bem fruí; a vida inteira
Concentrei n’um só ponto — ama-la, e sempre.
Amei! — dedicação, ternura, extremos
Scismou meo coração, scismou minha alma,
— Minha alma que na taça da ventura
Vida breve d’amor sorveo gostosa.
Eu e ella, ambos nós, na terra ingrata
Oásis, paraiso, eden ou templo
Habitámos uma hora; e logo o tempo
Com a foice roaz quebrou-lhe o encanto,
Doce encanto que o amor nos fabricára.

E eu sempre a via!.. quer nas nuvens d’oiro,
Quando ia o sol nas vagas sepultar-se,
Ou quer na branca nuvem que velava
O circulo da lua, — quer no manto
D’alvacenta neblina que baixava
Sobre as folhas do bosque, muda e grave,
Da tarde no cahir; nos céos, na terra,
A ella, a ella só, vião meos olhos.

Seo nome, sua voz — ouvia eu sempre;
Ouvia-os no gemer da parda rola,
No trepido correr da veia argentea,
No respirar da brisa, no susurro.
Do arvoredo frondoso, na harmonia
Dos astros ineffavel; — o seo nome!
Nos fugitivos sons de alguma frauta,
Que da noite o silencio realçavão,
Os ares e a amplidão divinisando,
Ouvião meos ouvidos; e de ouvil-o
Arfava de prazer meo peito ardente.