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Página:Collecção de autores portuguezes (Tomos I-IV).djvu/77

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Ah! quantas vezes, quantas; junto d’ella
Não senti sua mão tremer na minha;
Não lhe escutei um languido suspiro,
Que vinha lá do peito á flor dos labios
Deslisar-se e morrer?! Dos seos cabellos
A magica fragrancia respirando,
Escutando-lhe a voz doce e pausada,
Mil venturas colhi dos labios d’ella,
Que instantes de prazer me futuravão.
Cada sorriso seo era uma esp’rança,
E cada esp’rança enlouquecer de amores.
E eu amei tanto! — Oh! não! não hão de os homens
Saber que amor, á ingrata, havia eu dado;
Que affectos melindrosos, que em meo peito
Tinha eu guardado para ornar-lhe a fronte!
Oh! não, — morra commigo o meo segredo;
Rebelde o coração murmure embora.

Que de vezes, pensando a sós commigo,
Não disse eu entre mim: — Anjo formoso,
Da minha vida que farei, se acaso
Faltar-me o teo amor um só instante;
— Eu que só vivo por te amar, que apenas
O que sinto por ti a custo exprimo?
No mundo que farei, como estrangeiro
Pelas vagas crueis â praia inhóspita
Exanime arrojado? — Eu, que isto disse,
Existo e penso — e não morri, — não morro
Do que outr’ora senti, do que ora sinto,
De pensar nella, de a revêr em sonhos,
Do que fui, do que sou e ser podia!

Existo; e ella de mim jaz esquecida!
Esquecida talvez de amor tamanho,
Derramando talvez n’outros ouvidos
Frases doces de amor, que dos seos labios
Tantas vezes ouvi, — que tantas vezes
Em extasis divino aos céos me alçárão,