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o padre Souza Caldas à categoria de um dos primeiros líricos modernos.

A tradução dos MÁRTIRES é um riquíssimo tesouro de linguagem, estilo poético e poesia imitativa, e tão caudal, que, depois dos imortais LUSÍADAS, é por ventura o livro em que o estilo épico se levanta mais alto na língua portuguesa.

Temos lido em outras línguas, algumas traduções das METAMORFOSES mas nenhuma das que vimos, reproduziu ainda as Fábulas de Ovidio com tanta galhardia, graça, naturalidade e harmonia, como a de Bocage. É pena que tão insígne tradutor não nos deixasse mais composições deste gênero, em que primava.

A continuação da tradução das METAMORFOSES por Castilho não é feita com gosto menos apurado, nem em versos menos harmoniosos e naturais, que a de Bocage, seu modelo.

Da tradução das obras completas de Virgílio, a parte que comprende a ENEIDA principalmente, pode passar por uma obra clássica, e nada tem que invejar às boas traduções deste poema feitas em outras línguas.

Suposto seja a literatura portuguesa mui pobre de boas traduções, cumpre, todavia, notar, que essas poucas boas que existem, ou são iguais ou superiores a quanto há de melhor neste gênero em outras linguas; pois nada conhecemos de comparável em língua viva à admirável paráfrase dos SALMOS e à riquissima tradução dos MÁRTIRES, a não ser a soberba tradução ou imitação do OSSIAN de Macpherson feita em italiano pelo abade Cesaroti.

Nenhum desses insígnes tradutores que citamos como outros tantos clássicos, e em cujo número figuram poetas de primeira ordem, julgou degradar-se da justa celebridade que adquiriu por suas composições originais, dando-nos em português, enriquecidas com todos os donaires e galas da língua, as melhores obras de outros engenhos.

Os franceses que, de ordinário, tomamos por modelos de bom gosto em tudo, e cuja língua não é tão própria para verter do latim, como o português, têm nada obstante enriquecido sua literatura, uma das mais ricas em obras originais, com muitas e boas traduções, paráfrases e imitações dos autores gregos e latinos, sem se julgarem decaídos da nomeada e glória de literatos, porque transladam