Página:Como e porque sou romancista.djvu/27

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da infancia que o viram nascer. Das minhas primicias litterarias nada conservo; lancei-as ao vento, como palhiço que eram da primeira copa.

Não acabei o romance do meu amigo Sombra; mas em compensação de não tel-o feito heróe de um poema, coube-me, vinte sete annos depois, a fortuna mais prosaica de nomeal-o coronel, posto que elle dignamente occupa e no qual presta relevantes serviços á causa publica.

Um anno depois parti para S. Paulo, onde ia estudar os preparatorios que me faltavam para a matricula no curso juridico.

 

V

Com a minha bagagem, lá no fundo da canastra, iam uns quadernos escriptos em lettra miuda e conchegada. Eram o meu thesouro litterario.

Alli estavam fragmentos de romances, alguns apenas começados, outros já no desfecho, mas ainda sem principio.

De charadas e versos nem lembrança. Estas flores ephemeras das primeiras aguas tinham passado com ellas. Rasgara as paginas dos meus canhenhos e atirara os fragmentos no turbilhão das folhas seccas das mangueiras, á cuja sombra folgara aquelle anno feliz de minha infancia.