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Vistos de longe, e atravez da razão, esses arremedos de erudicção, arranjados com seus remendos alheios, nos parecem ridiculos; e todavia é esse jogo de imitação que primeiro imprime ao espirito a flexibilidade, como ao corpo o da gymnastica.

Em 1845 voltou-me o prurido de escriptor; mas esse anno foi consagrado á mania que então grassava de baironisar. Todo estudante de alguma imaginação queria ser um Byron; e tinha por destino inexoravel copiar ou traduzir o bardo inglez.

Confesso que não me sentia o menor geito para essa transfusão; talvez pelo meu genio taciturno e concentrado, que já tinha em si melancolia de sobejo, para não carecer desse emprestimo. Assim é que nunca passei de algumas peças ligeiras, das quaes não me figurava heróe e nem mesmo author; pois divertia-me em escrevel-as com o nome de Byron, Hugo, ou Lamartine nas paredes de meu aposento á rua de S. Thereza, onde alguns camaradas d'aquelle tempo, ainda hoje meus bons amigos, os Drs. Costa Pinto e José Brusque, talvez se recordem de as terem lido.

Era um desacato aos illustres poetas attribuir-lhes versos de confecção minha; mas a brocha do caiador, incumbido de limpar a casa pouco