lá de dentro: — «Não venha, não venha, que eu já estou curado; paguem-lhe e mandem-n'o embora. Pagaram ao falso medico e elle foi-se embora.
Por fim o conde melhorou e o rei voltou da guerra; chegou a casa e disse-lhe a filha mais nova: — «Meu par, quer os ramos juntos ou cada um por sua vez?» — «Quero-os cada um por sua vez, como eu os dei.» Ella mostrou o seu ramo ao pae e depois passou-o ás outras que cada uma por sua vez o mostraram ao pae, que julgou vêr os tres ramos e ficou muito contente por elles estarem verdes.
O conde foi pedir ao rei a filha mais nova e o rei disse-lhe que sim; disse-o á filha e ella respondeu: — «Não, meu pae, não o quero.» — «Filha, dei a minha palavra: tu has de casar com elle. — «Meu pae, não quero.» Por fim não teve remedio senão casar com o conde; mas emquanto esteve o ajuntamento dos convidados a beber e a jogar e a dançar, ella vae ao quarto em que havia de dormir e pegou n'um ôdre de mel e pôl-o na cama e apertou uma parte d'elle com uma corda fingindo assim uma cabeça e metteu-se debaixo da cama, segurando a ponta da corda. Elle veiu-se deitar. Chegou dentro do quarto e fechou a porta e disse: — «Ora, D. Esvintola, hoje é o teu dia derradeiro. Lembras-te de quando eu te rasguei o vestido?» E deu com a espada no ôdre, suppondo ser ella, e Esvintola por baixo puxava pela corda para assenar que sim, que se lembrava. — «Lembras-te de quando me descalçaste as botas?» E ella assenava que se lembrava e elle no ôdre com a espada. — «Lembras-te quando me botaste ao poço? E ella assenava que sim que se lembrava e elle dava-lhe com a espada. — «Lembra-te a ti, diabo, quando me déste a cóça?» E ella assenava que sim e elle deu com toda a força no ôdre e o mel saltou-lhe aos beiços e elles exclamou:
«Ai! D. Esvintola,
Tão brava na vida
E tão doce na morte!»