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Página:Contos Populares Portuguezes colligidos por F. Adolpho Coelho.pdf/77

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condeu entre o fato as laranjas que poude, para continuar a sua jornada; mas ao chegar ao muro por onde tinha entrado por mais esforços que fez não lhe foi possivel subir e ouviu uma voz que lhe dizia: — «Para fóra não, para dentro sim.» Elle respondeu: — «Se é pelas laranjas, ellas ahi ficam.» E dito isto, deitou no chão as laranjas que levava comsigo.

Passaram-se muitas horas e elle vendo que não conseguia sair foi passear pela quinta e então depararam-se-lhe vistosos jardins, lindos pomares e verdes hortas.

Estava já cansado de tanto andar, até que chegou a um lindo palacio e entrou e foi dizendo: — «Com licença, com licença.» Ninguem lhe respondia. Afinal foi ter a uma sala onde encontrou uma linda menina que estava bordando. Elle desfez-se em desculpas e contou-lhe o que lhe tinha succedido; ella então respondeu-lhe que não tinha nada a desculpar, antes estimava muito vel-o e que se elle quizesse podia ficar n'aquelle palacio. Como se decidisse a ficar, ella levou-o a uma varanda e mostrou-lhe os jardins, hortas e pomares, e, como elle se mostrasse maravilhado de tudo quanto via, perguntou-lhe ella o que de tudo quanto tinha visto desde que entrava no palacio lhe tinha mais agradado. O rapaz, como a fome apertasse, respondeu que o que mais lhe agradava eram as couves que elle via na horta. Á ceia mandou a menina que lhe apresentassem na mesa um prato de couves e combinou com a criada que quando estivessem á mesa apagasse ella a luz. Estavam pois a menina e o rapaz para cear e a criada, fingindo que ia espivitar a luz apagou-a; então a menina levantou-se e disse: — «Cada qual se agarre á coisa de que mais gostar.» E o soldado agarrou-se ao prato das couves. A menina despeitada disse-lhe: — «Visto que gostaes tanto de couves é bem que eu vos mostre as que ainda não vistes.» E n'isto conduziu-o a uma varanda que deitava para um curral de porcos e deitou-o para lá.

Por mais que o pobre soldado pedisse á menina que