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CONTOS POPULARES DO BRAZIL

tro moço, ainda mais bonito, montado n'um cavallo ainda mais bem apparelhado, e disse ao velho que queria comprar-lhe uma de suas filhas. 0 pai ficou muito incommodado; contou-lhe o que lhe tinha acontecido no dia antecedente, e recusou-se ao negocio. O moço o ameaçou tambem de morte, e o velho cedeu.

Se o primeiro deu muito dinheiro, este ainda deu mais e foi-se embora.

O velho de novo não quiz continuar a fazer as gamellas e a mulher o aconselhou até elle continuar. Pela tarde seguinte, appareceu outro cavalleiro ainda mais bonito, e melhor montado, e, pela mesma fórma, carregou-lhe a filha mais moça, deixando ainda mais dinheiro.

A familia cá ficou muito rica; depois appareceu a velha pejada e deu á luz um filho que foi criado com muito luxo e mimo. Quando chegou o tempo do menino ir para a escóla, n'um dia brigou com um companheiro, e este lhe disse: «Ah! tu cuidas que teu pai foi sempre rico!… Elle hoje está assim porque vendeu tuas irmãs!…» O rapazinho ficou muito pensativo e não disse nada em casa; mas quando foi moço lá n'um dia se armou de um alfange e foi ao pai e á mãi e lhes disse que lhe contassem a historia de suas tres irmãs, senão os matava. O pai lhe teve mão, e contou o que se tinha passado antes d'elle nascer. O moço então pediu que queria sahir pelo mundo para encontrar suas irmãs, e partiu. Chegando em um caminho, viu n'uma casa tres irmãos brigando por causa de uma bota, uma carapuça e uma chave. Elle chegou e perguntou o que era aquillo, e para que prestavam aquellas cousas.

Os três irmãos responderam que — áquella bota se dizia: «Bota, me bota em tal parte!» e a bota botava; á carapuça se dizia: «Esconde-me, carapuça!» e ella escondia a pessoa que ninguem a visse; e a chave abria qualquer porta.