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Página:Contos Tradicionaes do Povo Portuguez.pdf/103

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18. A MUDA MUDELLA

Era uma vez um homem que tinha duas filhas; a mais nova era muito linda e a mais velha muito feia, e por isso embirrava com a irmã, que a não podia vêr. A feia intrigava-a com o pae, que se fiava em quanto lhe dizia; um dia armou uma traição á irmã para a perder. Morava por ali um rapaz muito valdevinos, que tentava todas as raparigas, e a irmã feia disse á mais nova que fosse áquella casa, porque ali existia uma familia envergonhada e em grande miseria, a quem ella podia soccorrer, porque tinha bom coração. Assim que a irmã sahiu a soccorrer a tal familia, a irmã mais velha avisou o pae, que lhe foi sahir ao encontro, e ficou suspeitando o que não era. Desesperado com a sua affronta, o pae resolveu mandar matal-a, e deu ordem a um creado que a levasse para a floresta, para acabar com a pobre menina. Mas o creado teve dó d’ella e deixou-a perdida no meio da floresta só com a companhia de uma cadellinha, que ella estimava muito e que nunca a deixava. A menina viveu por algum tempo dentro de uma furna, comendo ervas. Andando um dia o rei á caça viu uma cadellinha, e mandou dar-lhe pão; a cadellinha pegou no pão e fugiu para o ir levar á sua dona. Passado tempo a cadellinha foi apparecer ao rei em outro sitio, tornaram a dar-lhe pão, e fugiu outra vez; o rei mandou acompanhar a cadellinha para vêr para onde ella ia, e qual não foi o espanto ao irem encontrar uma donzella tão formosa e que parecia tão desgraçada. Ora esquecia dizer que a menina tinha promettido que se escapasse da morte e fosse salva d’aquelles trabalhos, estaria sete annos sem fallar. Quando o rei a encontrou e lhe fez perguntas, ella lembrou-se da sua promessa, e não disse uma palavra. O rei levou-a para o palacio, porque gostava muito d’ella, e tanto se apaixonou que queria, désse por onde désse, casar com