funda a cova, descobriu uma lagem, levantou-a, e deu com uma escadaria por onde desceu. Quando chegou lá abaixo encarou com a filha, que estava muito linda e muito bem vestida:
— Filha, como é que vieste ter aqui?
— Quando a minha madrasta me enterrou, appareceu-me aqui esta casa, e todos os dias vem aqui uma senhora dar-me de comer.
O pae ficou vivendo com a filha, e não quiz mais saber da mulher.
(Algarve.)
Era uma vez um mercador que tinha uma filha linda como as estrellas e ladina como os diabos. Pegado á varanda d’ella era o quintal do rei. Todas as tardes ella ia regar as suas flôres, e tinha um grande manjaricão. O rei começou a gostar muito d’ella, e já a esperava á hora certa para a vêr, e perguntava-lhe sempre:
Oh menina, visto ser
De tanta discrição,
Hade-me saber dizer
Quantas folhas tem o seu manjaricão?
Ella dava-lhe o troco, dizendo:
Vossa magestade, que sabe
Lêr, escrever e contar,
Hade saber quantos bagos
De areia tem o mar?
O rei começou então a vêr se podia pregar uma peça á rapariga, e aproveitou uma occasião em que o mercador tinha sahido para fóra da terra. Arranjou uma tenda com quinquilherias, e foi vestido de tendeira a casa d’ella. A filha do mercador mandou-a entrar sem suspeitar mal; o