ponto de reconhecermos a necessidade de uma classificação deduzida da propria complexidade das ficções.
Para alargarmos a colheita dos contos oraes por todas as provincias, servimo-nos da influencia pessoal de bons amigos, entre os quaes citaremos Reis Damaso, para a Novellistica do Algarve, Dr. Ernesto do Canto e o fallecido Dr. João Teixeira Soares para as ilhas dos Açores; em casa achámos bastantes tradições da antiga divisão provincial de Entre Douro e Minho, e do contacto com os narradores populares colhêmos directamente versões importantes, por onde vimos que era absurdo, senão impossivel, pretender sthenographar um ditado cheio de vacillações e sem nexo que prejudicam a comprehensão dos themas tradicionaes que se vão obliterando. Sobre o estado da tradição nos Açores, escrevia-nos o Dr. Teixeira Soares (Carta de 25 de novembro de 1875): «Aconteceu o outro dia passar aqui uma noite a Maria Ignacia. Chamei-a e á minha criada para junto d’esta meza de trabalho para as interrogar sobre contos populares a que o povo chama Casos. Desculparam-se da falta de memoria juvenil para entrarem francamente n’este campo; comtudo disseram bastante para me deixarem estupefacto. Que peripecias! que maravilhoso! que poesia! Affirmaram unanimemente que seria impossivel ao investigador mais diligente formar uma collecção completa de todos os Casos sabidos do povo: — Todos escriptos enchiam esta casa! — disse a Maria Ignacia. A lista junta mostra aquelles de que se recordaram e a que se referiram. Por ella verá o meu amigo a inexgotavel mina de Casos que aqui o espera:
«Do gado Gajão — Da Garoupinha — Dom José pequeno — Maria do paosinho — Maria Subtil — O rei que achava a quinta despedaçada — Canarinho verde — Rainha do verde — Os trez homens que queriam comer sem gastar — D. Philippe — A Duqueza — Rei Dom João — Rei d'Hostia — Filho da burra — A arvore que falla e o passaro que canta — O