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Página:Contos Tradicionaes do Povo Portuguez.pdf/181

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Quando os dois irmãos sahiram da egreja não acharam a velha, e vieram para casa muito tristes com o roubo de toda a sua fortuna. Disse o mais novo:

— É tempo de saber para que serve esta cacheira.

Foi ter á porta da egreja, e fingiu que queria dar a guardar a cacheira; vem a velha ter com elle. Deu-lhe a cacheira:

— Guarda-m’a até já, e não digas: «Desanda cacheira!»

A velha, pelo vezo, faltou á promessa, e assim que disse: «Desanda cacheira!» como não estava ali em quem batesse, a cacheira começou a bater na propria velha, que foi a gritar procurar o rapaz para fazer parar aquelle castigo. O rapaz veiu de dentro da egreja, e deixou a cacheira malhar, até a velha confessar onde é que tinha escondido a toalha e a burra. Só quando ella entregou tudo, é que a cacheira parou. Se não fosse a cacheira, de que o pae fez escarneo, os outros thesouros ficariam perdidos para sempre.

(Porto.)



50. O SAL E A AGUA

Um rei tinha trez filhas; perguntou a cada uma d’ellas por sua vez, qual era mais sua amiga? A mais velha respondeu:

— Quero mais a meu pae, do que á luz do sol.

Respondeu a do meio:

— Gosto mais de meu pae do que de mim mesmo.

A mais moça respondeu:

— Quero-lhe tanto, como a comida quer o sal.

O rei entendeu por isto que a filha mais nova o não amava tanto como as outras, e pôl-a fóra do palacio. Ella foi muito triste por esse mundo, e chegou ao palacio de um rei, e ahi se offereceu para ser cosinheira. Um dia veiu á mesa um pastel muito bem feito, e o rei ao partil-o achou dentro um annel muito pequeno, e de grande preço. Per-