— Agora é que desafio todo o mundo para me mostrarem uma mulher melhor do que a minha.
— Pois eu estou prompto para uma experiencia. Á noite, quando formos para casa, vae o patrão atravessado na palha fingindo que morreu, e o resto fica por minha conta.
Assim aconteceu; o criado chegou mais tarde do que o costume, bateu á porta, e com grande pranto contou como o patrão tinha morrido de repente. Quando a mulher ia começar a fazer grandes choros, disse-lhe o criado:
— Oh minha ama; é melhor não dar a saber isto á visinhança, porque se enche logo a casa de gente, e tudo quanto lhe vier fazer companhia quer de comer e grandes esmolas, e assim nós dois pod emos passar a noite ao pé do corpo.
— Dizes bem, Valentim; pela manhã logo, se dirá que morreu.
Pegaram ambos no corpo e foram deital-o em cima de uma cama; passado algum tempo, diz o criado:
— Oh minha ama, a gente não ceia nada? isto morto como morto, e vivo como vivo.
— Pois dizes bem, vou fazer folar e tu vae lá abaixo buscar uma infusa de vinho.
Passado mais algum tempo, diz outra vez o criado:
— Oh minha ama, deixe-me deitar um bocadinho no seu colo, ando tão moido do trabalho.
— Pois sim, Valentim.
Tornou, depois o criado:
— O meu amo quando era vivo
Dizia-me que casasse comtigo.
Respondeu a mulher:
— Tambem elle me dizia a mim
Que casasse comtigo, meu Valentim.