Era uma mulher casada, mas que se dava muito mal com o marido, porque não trabalhava nem tinha ordem no governo da casa; começava uma cousa, e logo passava para outra, tudo ficava em meio, de sorte que quando o marido vinha para casa nem tinha o jantar feito, e á noite nem agua para os pés, nem a cama arranjada. As cousas foram assim, até que o homem lhe pôz as mãos e ia-a tocando, e ella a passar muito má vida. A mulher andava triste por o homem lhe bater, e tinha uma visinha a quem se foi queixar, a qual era velha e se dizia que as fadas a ajudavam. Chamavam-lhe a Tia Verde-Agua:
— Ai, tia! vocemecê é que me podia valer n'esta afflicção.
— Pois sim, filha; eu tenho dez anõesinhos muito arranjadores, e mando-t'os para tua casa para te ajudarem.
E a velha começou a explicar-lhe o que devia fazer para que os dez anõesinhos a ajudassem; que quando pela manhã se levantasse fizesse logo a cama, em seguida accendesse o lume, depois enchesse o cantaro da agua, varresse a casa, aponteasse a roupa, e no intervallo em que cosinhasse o jantar fosse dobando as suas meadas, até o marido chegar. Foi-lhe assim indicando o que havia de fazer, que em tudo isto seria ajudada sem ella o sentir pelos dez anõesinhos. A mulher assim o fez, e se bem o fez melhor lhe sahiu. Logo á bocca da noite foi a casa da tia Verde-Agua agradecer-lhe o ter-lhe mandado os dez anõesinhos, que ella não viu nem sentiu, mas porque o trabalho correu-lhe como por encanto. Foram-se assim passando as cousas, e o marido estava pasmado por vêr a mulher tornar-se tão arranjadeira e limposa; ao fim de oito dias elle não se teve que não lhe dissesse