morto, entenderam que ali era logar seguro para repartirem o dinheiro e fazerem os quinhões do que tinham roubado. Quando estavam n'isto, desavieram-se, porque todos queriam umas certas joias que o capitão dos ladrões reservava para si. Faziam muita bulha, mas o que se fingia morto na eça, e o compadre que estava escondido, passaram sustos medonhos e não se mechiam. Por fim disse o capitão dos ladrões:
— Eu cá não faço questão d'este quinhão; mas quem o quizer hade ir espetar esta faca no morto que está ali n'aquella eça.
Dizia um: «Vou eu»! Outro tambem queria ir; mas o que se fingia defunto, sem saber como se havia de vêr livre da situação desesperada, senta-se no caixão, e diz e com terror:
Acudam-me aqui os defuntos
E venham já todos juntos.
Os ladrões fugiram todos espavoridos e deixaram o dinheiro ao pé da eça; o compadre que se fingia morto desceu para baixo, e começou a ajuntar o dinheiro espalhado pelo chão. Quando estava n'isto sáe-lhe debaixo da eça o crédor, que nem á borda da cova o largava, e começa a repetir-lhe sem parar:
— Dá-me o meu meio tostão! Dá-me o meu meio tostão.
E não se tirava d'isto. Os ladrões por fim envergonharam-se da sua covardia, e mandaram um mais valente á egreja vêr o que por lá havia, e se podiam ir buscar o seu dinheiro. O ladrão veiu surrateiro, escondeu-se detraz de uma porta a escutar, e ouvia só:
— Dá-me o meu meio tostão!
Desatou a fugir, e foi dizer aos companheiros:
— Está tudo perdido; andam lá tantos defuntos, que não cabe meio tostão a cada um. Os ladrões conforma-