A ovelha, o gallo, o porco, o gato, o pato e o perú foram fazer uma viagem, e recolheram-se de um temporal n’um casebre em que luzia o buraco. Não estava ali ninguem, e o porco foi para o cortêlho, a ovelha e o pato puzeram-se de traz da porta, o gato acocorou-se na borralheira, e o gallo com o perú pousaram-se no caibro do tecto. Lá pela noite adiante vieram os lobos, que a casa era d’elles, e um foi á borralheira a vêr se havia lume, mas o gato esgatanhou-lhe os focinhos. O lobo começou a uivar, e os outros todos iam para acudir, mas o porco ferrou na perna de um, a ovelha deu uma marrada n’outro, o gallo pega a cantar, o pato a cacarejar, e os lobos pernas para que te quero, só muito longe é que so tornaram a juntar. Disse um:
— Vamos lá ver o que é que tomou conta da nossa casa.
— Eu cá não vou, porque estava lá um cardador que me chimpou com as cardas no focinho. (Era o gato.)
— E a mim, topei lá com um ferreiro que me atirou com uma tranca de ferro ás canellas. (Era a ovelha.)
— Tambem eu não torno lá, porque o tal ferreiro agarrou-me por uma perna com umas tenazes. (Era o porco com a dentuça.)
— Eu cá, escapei da malhada, mas ouvi um que estava a bramar:
Cacarista, cacarista,
Se lá vou faço tudo em cisco.
— Tanto isso é verdade, que outro clamava: Ingulil-os, Ingulil-os. (Referia-se ao perú e ao gallo.)
— É verdade que havia lá uma coisa que dizia: Haja pazes! Haja pazes! (Era o pato.)