Quando foi para sahir estava com a barriga muito cheia, e por mais que fez não pôde passar pelo buraco. Viu-se perdida, porque já vinha amanhecendo. Por fim teve uma lembrança. Fingiu-se morta.
De manhã veiu o lavrador e viu-a:
— Cá está ella. E que estrago que ella me fez!
Vae para lhe dar pancadas e matal-a, mas vê-a hirta, com a lingua atravessada nos dentes e os olhos envidraçados:
— Poupaste-me o trabalho; morreste arrebentada. Foi bôo.
E pega-lhe pelas pernas e atira-a para o meio da horta para a enterrar. A raposa assim que se viu fóra do gallinheiro, pernas para que te quero! botou a fugir pelos campos fóra e fez do rabo bandeira. O lavrador deu a cardada ao dianho, e jurou que nunca mais se fiaria em raposas.
(Airão.)
Uma raposa viu um gallo pousado em cima de um palheiro, e não podendo agarral-o começou-lhe a fallar cá de baixo:
— Oh gallo, não sabes? Veiu agora uma ordem para todos os bichos serem amigos uns dos outros. Nós cá as raposas já não temos guerra com os cães, estamos amigos; e tu podes-te descer cá para baixo, que eu já te não faço mal.
Estava n’isto quando vem uma matilha de cães, e farejando-lhe a raposa, botam-se atraz d’ella. A raposa ia sendo agarrada, mas fugia o mais que podia. O gallo de cima do palheiro gritava-lhe:
— Mostra-lhe a ordem! Mostra-lhe a ordem!
A raposa, ainda de longe lhe respondia: