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na silente escuridão da rua. Estava sentado n’um banco, havia muitas horas, defronte da curva dos bonds. O olhar avistara um cartaz collado á parede da Casa Adolpho: uma parisiense, com a saia batida pelo rijo vento de Montmartre, puxava um carro-annuncio, formoso preconicio do estabelecimento. Pareceu-lhe que a sua situação moral estava em analogia com o quadro, afora os matizes garridos. Elle tambem andava atrelado ao carro da vida, fustigado e zurzido pelo tufão dos dissabores domesticos. As tintas, porém, com que se devêra pintar a sua existencia tinham de ser amassadas na palheta das desditas, — toda a gamma sombria das cores carregadas, desde o roxo dos goivos ao negro da infelicidade.

Desviou a vista do obsidiante cartaz, pois não fôra para atiçar tristes lembranças que saíra de casa. Bem ao contrario, necessitava de distrahir o espirito, refrescar