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o cerebro na suave tranquillidade da noite, em plena praça. Tirou o chapéu, conservando-o na mão direita e extendeu os braços pelo espaldar do banco. A cabeça, de largas entradas, pendeu para traz: dir-se-ia um crucificado; e o olhar foi ao alto, cravou-se na insondavel amplidão do espaço, ao fundo da qual phosphoresciam estrellas, aos milhares. Afundou-se então na tremenda reviviscencia dos seus infortunios.

— Lá vae ella outra vez, bradou alguém, á direita.

Silverio, com um estremeção, voltou á vida exterior, buscando descobrir quem falava. Era o cocheiro, — o Cadete ou o Bruzegas, — á porta do Club, encarapitado na bolêa, a denunciar em soliloquio cada intermissão na luz do foco electrico mais próximo.

— Feliz mortal, murmurou Silverio, invejoso da despreoccupação d’aquelle homem.

O Riche, a cuja porta cabeceava o proprietario, estava sempre