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Uma tarde de temporal, a companheira de Antonio tivera a velleidade de tomar banho no oceano. Montanhas de agua corriam do largo, urravam furiosas ao chegar á praia, no desespero com que rebentavam na areia. O ceu todo estava negro, acolchoado de nuvens: coriscos fuzilavam incessantemente e a chuva, levada pela ventania, transformava-se em nevoeiro subtil e frio.

Vizinhos, que tinham visto a mulher encaminhar-se para o mar, perguntaram-lhe se estava louca. Ella, porém, dissera que velhos amigos não brigam.

— E sei nadar muito bem, concluiu, senhora de si propria.

Equivocara-se. Comquanto não se afastasse senão uns quarenta ou cincoenta metros, uma onda maior enlaçou-a fragorosa, suspendeu-a como um argueiro, levou-a para longe. De terra viram-n’a erguida na crista da vaga. Debatia-se valente, bracejava com energia, em direcção á praia.