Página:Contos do Norte (1907).pdf/23

Wikisource, a biblioteca livre
16

Mas um grito resoou no grupo de espectadores transidos. Antonio, palpitante de pavor, apontava para o mar. Ao longe, em direcção á cabocla, levantara-se outra onda enorme, que vinha correndo vertiginosamente. Comprehendeu-o a rapariga: redobrou de esforços, afim de alcançar o littoral antes que a formidavel serrania d’agua a envolvesse.

Esta, no entanto, corria célere, cachoeirando. E, n’um momento, alcançou a infeliz, arrastou-a para a praia, onde rebentou n’um estrepito medonho.

Toda a gente, que a curiosidade fizera acercar-se até á agua, tinha fugido, gritando desesperada. Ao voltarem-se, quebrara-se a vaga. Mas a pobre cabocla fôra cuspida na areia com violencia, jazia morta, o peito pisado, um fio de sangue escorrendo da bocca entreaberta.

Correu Antonio a tiral-a para a terra, beijando-a com frenesi. Não podia crer que houvesse morrido