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que monotonamente prescrevia um Padre-Nosso e uma Avè-Maria como penitencia ás mais reincidentes peccadoras.

Trinta annos de pastoreio de ovelhas espirituaes haviam-lhe dado, com a calma imperturbavel, o anesthesico da sensualidade.

D’entre as suas mais assiduas confessadas distinguia-se, pelo ameno rosto e fervorosa devoção, uma joven mulatinha, filha d’um fazendeiro da comarca de Chaves. Era um primor, a Maricota, requestada por muitas leguas em torno, na cálida terra marajoara, onde o amor bebe roborantes philtros aperitivos, na doce emanação das gordas pastagens restolhadas.

Ninguém mais attenta do que ella aos deveres do culto catholico e ao cumprimento de suas obrigações domesticas: «rapariga da ponta», consagrava-a a opinião da comarca, pelo orgão competentissimo do conspicuo juiz de direito.

Quando chegou dezembro, Maricota combinara com o vaqueiro