Página:Contos e phantasias (Maria Amália Vaz de Carvalho, 1905).pdf/109

Wikisource, a biblioteca livre
CONTOS E PHANTASIAS
103

Uma estufa de plantas raras, de extranho colorido, de fórmas phantasticas e inquietadoras, de cheiro irritante e acre; taboleiros de gazon d’uma frescura esmeraldina, camelias, rosas, trepadeiras floridas, tudo que as tyrannias da arte teem misturado nas liberdades da Natureza.

O visconde depois de haver-se rodeado de tudo que póde tornar aos ricos a vida não só aprazivel o que é pouco, mas invejavel o que é muitissimo, começou a grangear relações, e a receber com bizarra hospitalidade os amigos que durante o inverno adquiria nas salas da capital.

Em Lisboa não era menos rica, nem menos confortavel, a habitação do millionario.

Vastos salões ricamente mobilados, equipagens de alto estylo, criadagem insolente e ociosa, escadarias alcatifadas, bailes e ceias onde toda a côrte concorria tão cheia de curiosidade como de gulodice, jantares aos quaes eram convidados os ministros, os titulares, os diplomatas estrangeiros e os funccionarios mais influentes, tudo emfim que póde dar á vida um aspecto opulento e principesco, tudo que constitue o orgulho supremo dos mediocres e a inveja brutal dos ambiciosos.

De resto o dono da casa era tão pouco conhecido da maioria dos frequentadores das suas festas, que mais d’um o tomou pelo criado de si