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CONTOS BRASILEIROS


Magro, elegante, impertigado e teso,
Acariciando a flacida soiça,
E olhando para o mundo com desprezo;

Não commetteras, não, grande injustiça
Pondo-o no rol da frivola canalha
Que a vadiar o tempo desperdiça.

Vinha, porém, um desmentido á balha:
— Elle, um vadio? Pois nem vae á cama!
Toda a noite, a escrever e a ler, trabalha! —

E ora ahi tens, bom leitor, a erronea fama
Que voava por toda esta cidade,
Cujo vulgacho vil nescios acclama.

A metade de um seculo de edade
Contava, ou mais; formára-se em direito,
Nunca se soube por que faculdade,

E, por falta de intelligencia ou geito,
Jámais se utilisou, que não convinha,
De um diploma platoníco e suspeito;

Como no cofre alguma coisa tinha,
Vivendo foi sem se occupar de nada,
Mas com muita decencia se mantinha.

Trajava roupa á moda e bem talhada,
Frequentava jornaes e jornalistas,
Trazia sempre a bolsa escancarada.