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A ESCRAVA
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Eu não fui creada a esmo,
Comquanto fosse uma escrava;
Muitas vezes sinhásinha
Junto de si me assentava,
E me ensinava leitura
E a rabiscar me ensinava.

Era, porém, na costura
Que eu mostrava mais primor;
Vestidos fazia a ponto
De muita gente suppôr
Que eram obra da madama
Lá da rua do Ouvidor.

Não havia outra mucama
Com tão raros predicados!
Como eu engommava as rendas,
As prégas e os apanhados,
Do ferro levando o bico
Aos refolhos dos babados!

Era o meu senhor tão rico,
Tinha tantas relações,
Que não perdia um só baile,
Nem outras quaesquer funcções,
E todas ás quartas-feiras
Dava em casa reuniões.

Eram muito pagodeiras
Quer sinhá, quer sinhásinha:
De um baile mal descançavam,