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O MARIDO, A MULHER, E O OUTRO
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Talvez fizesse
Com que uma bala
Cabo da vida estupida lhe désse!

Viveu assim seis mezes, e á medida
Que os tempos tristemente se passavam,
Mais e mais na sua alma se avivavam
Fundas saudades da mulher querida.

Gastava a pensar nella o dia inteiro,
Durante toda a noite a via em sonhos,
E acordava a soltar gritos medonhos,
Abraçando e beijando o travesseiro!

Um dia, finalmente, subjugado
Por uma idéa impavida, constante,
Resolveu ir passar pelo sobrado
Em que a mulher morava com o amante...

Quatro vezes passou por lá sem vel-a;
Porém, á quinta vez, quando passava,
Viu que à jannella a perfida se achava,
E foi como se vira a sua estrella!

A’ sexta vez elle cumprimentou-a,
E foi correspondido;
A’ setima sorriu-lhe, namorou-a,
Namoraram-se ambos, e o marido
Durante um longo mez passou por ella,
Que o esperava á janella!

Escreveu-lhe, afinal, uma cartinha,
Pintando ao vivo o eterno amor que tinha,