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CONTOS BRASILEIROS


Pedindo uma entrevista
Com o mesmo empenho com que supplicára
A vida um moribundo, um cego a vista.

Morta por isso andava a esposa cara.
Estava o nosso Arantes
A sós com ella, como dois amantes,
Quando o dono da casa, de repente,
Subiu a escada inesperadamente.
— Oh! diabo! é o Souza! Esconde-te depressa!
— Eu esconder-me! Hom’essa! —
Elle abre o guarda-roupa, e elle, tremendo,
Para evitar um incidente horrendo,
Esconde-se.

Entra o Souza, e desconfia:
Ella nervosa está, tem a mão fria,
E o guada-roupa geme...
Suando em bicas, Secundino treme,
Entre calças e saias, suffocado
Por um cheiro de camphora, coitado!...

— Quem está dentro daquelle guarda-roupa?
Pergunta á queima roupa
O Souza, e, vendo que ella não responde,
Abre o movel...

— Senhor, por que se esconde?
Deve ficar aqui bem assentado
Que o marido enganado
E’ o senhor e não eu! Saia p’ra fóra!
Aqui tem a senhora:
Ella é sua e não minha, Deus louvado! —