Da cara esposa que, fazendo balas,
Do casal as despezas auxilia,
Porque, se assim não fôra, ambos de certo
Se veriam em talas.
Seria aquella casa um lindo céo aberto
Se tivesse o casal um filho, um filho ao menos,
Sim, porque, não ha duvida, os pequenos
Espancam a tristeza
E tornam supportavel a pobreza
No lar mais esquecido dos favores
Da eterna deusa cega e fugitiva
Que anda sobre uma roda e que nos faz, senhores,
Andar a todos n’uma roda vida.
No entanto, em casa havia
Um velho cão que, a bem dizer, suppria
De uma criança, a falta.
Era um grande peralta
Que, se a porta da rua achava aberta,
Ia logo se embora,
E eram dias e dias pela certa,
Que ficava lá fóra,
E coisas taes fazia,
Que ao regressar, trazia
Vestigios eloquentes
De haver lutado a dentes,
Disputando, talvez, uma gentil cadella
Qual cavalheiro antigo, a lança heroica em riste,
Disputaria a sua dama bella.