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CONTOS CARIOCAS


Sem descalçar primeiramente as botas,
Que tinham «ringideira».
Elle subiu ridiculo, em palmilhas,
E co’um dedo enfiado nas presilhas
Das duas botas penduradas. Ella,
Que o vira da janella,
Foi no topo da escada recebel-o,
Suggestivo o peignoir, solto o cabello,
Elle quiz abraçal-a;
Ella, porém, fez — Pscio! — e, cautelosa,
Tomando-o pela mão fria e nervosa,
Pé ante pé levou-o para a sala,
Dizendo-lhe baixinho;
— Muito devagarinho...
Elle póde acordar... — Na sala escura
Teve ignobil desfecho essa aventura...

— Mas teu marido? Tu não tens receio...
— Ai! se soubesses... Eu narcotisei-o!...
Olha... Não o ouves resonar? — O moço
Nada ouvia, mas respondeu... Sim... ouço...

Succederam-se novas entrevistas,

Sempre co’as mesmas precanções já vistas.
Logo á segunda, o Lopes foi sangrado
Em quinhentos mil réis, não para ella,
Que nada lhe faltava, Deus louvado,
Mas para a tal mulata, sentinella,
Que tinha precisão dessa quantia.