Página:Contos fluminenses.djvu/57

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— Queria então incumbir-me?

— De cousa nenhuma, respondeu a velha sorrindo; incumbir disse-lhe eu, como diria qualquer outra cousa indiferente; quero informal-o.

— Ah! de que?

— Sabe quem ficou hoje de cama?

— D. Margarida?

— É verdade; amanheceu um pouco doente; diz que passou a noite mal. Eu creio que sei a razão, accrescentou D. Antonia rindo maliciosamente para Mendonça.

— Qual será então a razão? perguntou o medico.

— Pois não percebe?

— Não.

— Margarida ama-o.

Mendonça levantou-se da cadeira como por uma mola. A declaração da tia da viuva era tão inesperada que o rapaz cuidou estar sonhando.

— Ama-o, repetio D. Antonia.

— Não creio, respondeu Mendonça depois de algum silencio; ha de ser engano seu.

— Engano! disse a velha.

D. Antonia contou a Mendonça que, curiosa por saber a causa das vigilias de Margarida, descobríra no quarto d’ella um diario de impressões, escripto por ella, á imitação de não sei quantas heroinas