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Página:Contos para a infancia.djvu/143

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não bebemos outra agua a não ser a da chuva. Agora é o contrario: que cuidados! As raparigas estendem-me todas as manhãs, e á noite tomo o meu banho com um regador. A creada do sr. cura fez um discurso a meu respeito, e provou perfeitamente que era eu a melhor peça da parochia. Não posso ser mais feliz.»

Levaram o panno para casa, e entregaram-n'o ás thesouras. Cortaram-n'o e picaram-n'o com uma agulha. Não era lá muito agradavel, mas em compensação fizeram d'elle uma duzia de camizas magnificas.

— Agora decididamente começo a valer alguma coisa. O meu destino é abençoado, porque sou util n'este mundo. É preciso isso para se viver em paz, e ser-se feliz. Somos hoje doze pedaços, é verdade, mas formamos um só grupo, uma duzia. Que incomparavel felicidade!

O panno das camisas foi-se gastando com o tempo.

— Tudo tem fim, murmurou elle. Eu estava disposto a durar ainda, mas não se fazem impossiveis.»

E as camisas foram reduzidas a farrapos, a trapos, e imaginaram que era finalmente a sua morte, porque foram rasgados, amaçados, fervidos, sem adivinharem o que lhes queriam. Mas de repente transformaram-se em papel branco magnifico.

— Oh que agradável surpreza! exclamou o papel, agora sou muito mais fino do que d'antes, e vão cobrir-me de letras. O que não escreverão em cima de mim! Tenho uma fortuna maravilhosa!»

E escreveram n'elle as mais bellas historias, que foram lidas deante de numeros ouvintes, e os tornaram mais sabios e melhores.