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Página:Contos para a infancia.djvu/144

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— Ora aqui está uma cousa muito superior a tudo que eu tinha imaginado, quando vivia na terra, coberto de flores. Como poderia eu imaginar que ainda havia de servir para alegrar e instruir os homens! Não sei explicar o que me está acontecendo, mas é verdade. Deus sabe perfeitamente que nunca fui ambicioso, e que nunca me queixei da minha sorte; foi Elle que gradualmente me elevou, até chegar á maior gloria. Cada vez que me lembro da cantiga das silvas: «Acabou-se, acabou-se» tudo pelo contrario se me apresenta debaixo do aspecto mais risonho. Vou viajar, percorrer o mundo inteiro, para que todos me possam ler e instruir-se. Antigamente eu estava carregado de florinhas azues; agora as minhas flores são os mais elevados pensamentos. Sinto-me feliz, immensamente feliz!»

Mas o papel não foi viajar; entregaram-n'o ao typographo, e tudo que lá estava escripto, foi impresso para fazer um livro, milhares de livros, que recrearam e instruiram uma infinidade de pessoas. O nosso bocado de papel não teria prestado o mesmo serviço, ainda que desse a volta á roda do mundo. A meio caminho já estaria gasto.

— É justo, disse o papel, não tinha pensado n'isso. Fico em casa, e vou ser considerado como um velho avô! fui eu que recebi as letras, as palavras cahiram directamente da pena sobre mim, fico no meu logar, e os livros vão por esse mundo fóra. A sua missão é realmente bella, e eu estou contente, e julgo-me feliz.

O papel foi empacotado, e lançado para uma estante.

— Depois do trabalho é agradável o descanço,