Página:Contos para a infancia.djvu/145

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pensou elle. É n'este isolamento que a gente aprende a conhecer-se. Só d'hoje em diante é que eu sei o que contenho, e conhecermo-nos a nós mesmo é a verdadeira perfeição. Que me irá ainda acontecer? Progredir, está claro.»

Passados tempos, o papel foi atirado ao fogão para o queimarem, porque o que o não queriam vender ao merceeiro para embrulhar assucar. E todas as creanças da casa se pozeram á roda; queriam vel-o arder, e ver também, depois da lavareda, as milhares de faiscas vermelhas, que parecem fugir, e se apagam instantaneamente uma apoz outra. O masso inteiro de papel foi atirado ao lume. Oh! como elle ardia! Tornara-se n'uma grande chamma, que se erguia tão alto, tão alto como o linho nunca erguêra as suas flores azues; a peça de panno nunca tinha tido um brilho semilhante.

Todas as letras, durante um segundo, se tornaram vermelhas: todas as palavras, todas as idèas desappareceram em linguas de fogo.

— «Vou subir até ao sol;» dizia uma voz no meio da lavareda, que pareciam mil vozes reunidas n'uma só. A chamma saiu pela chaminé, e no meio d'ella volteavam pequeninos seres invisiveis para os olhos do homem. Eram tantos quantos tinham sido as flores que o linho tinha dado. Mais leves que a chamma, de quem eram filhos, quando ella se extinguiu, quando não restava do papel senão a cinza negra, ainda elles dançavam sobre essa cinza, e formavam, tocando-a, pequeninas scentelhas encarnadas.

As creanças cantavam á roda da cinza inanimada: