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DA FRANÇA AO JAPÃO

desappareceu progressivamente diante do engenho humano; o labyrintho de ruas estreitas e immundas, e as acanhadas habitações da idade média, forão substituidas pelos boulevards e os squares aformoseados com os lindos edificios que ahi ostenta a moderna architectura.

Poucas cidades da Europa apresentão um accressimo tão rapido de população como Marselha. Em começo deste seculo apenas contava 90,000 habitantes, e hoje a sua população é superior a 300,000, o que é sem duvida devido, ao desenvolvimento do seu commercio maritimo e á vasta extensão da actual rede de caminhos de ferro que cobre todo territorio francez.

Foi á esta interessante e rica cidade que chegamos em 15 de Agosto de 1874, com o fim de embarcarmo-nos em um dos paquetes francezes, com destino ao Japão.

A nossa viagem, ás longinquas terras do extremo oriente não foi motivada pelo desejo que, havia muito tempo, nutriamos de visitar paizes curiosos, pelos uzos e costumes dos seus habitantes, e, ainda mais, por terem sido, incontestavelmente, a patria dos primeiros philosophos, cujas doutrinas, alguns seculos mais tarde, forão expostas sob outras fórmas, pelos sabios do occidente. O objecto da nossa viagem era outro, e tinhamo-nos compromettido levar ao cabo nossa empreza.

Eis como um gracioso convite assim se transformára em ardua missão.

Venus, a deosa da formusura, devia realizar a solemne promessa feita ao rei dos astros, da sua entrevista secular, o que teria lugar em um dos dias de Dezembro de 1874; e como nossos antepassados, sacerdotes como nós, das divindades celestes, notarão n’estas entrevistas, que suas crenças erão mystificadas pelos caprichos da deosa; cumpria-nos aproveitar o novo ensejo para formularmos juizo a respeito.

Até então, viviamos de crenças, mais ou menos justificadas pelas apparencias, e era de esperar que um seculo mais