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DA FRANÇA AO JAPÃO
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director da repartição dos incendios de Hong-Kong, que durante o furor do temporal arriscou sua vida para salvar a de um certo numero de passageiros dos navios hespanhóes. Actos desta ordem não devião ficar em silencio; e não nos desculpamos de ignorar um nome digno do reconhecimento de todas as almas bem formadas.

Emquanto dous elementos desencadeados levavão a morte e a desolação aos habitantes de Hong-Kong e aos tripolantes e passageiros dos navios surtos no porto, grupos de piratas chins ateavão fogo aos armazens da companhia americana, e levavão o saque e a pilhagem á um dos paquetes desta mesma companhia.

O incendio por circumstancias inexplicaveis apenas consumio dous armazens, porém, na pilhagem, forão assassinados alguns estrangeiros pelos miseraveis bandidos.

O governador da colonia mandou proceder a um inquerito sobre este inaudito crime e consta-nos que seus autores pagárão com a vida o acto barbaro e sanguinario que praticarão com o mais revoltante cynismo e audacia.

Muitos forão os dias de consternação e de luto que se seguirão ao da horrivel catastrophe; e a cidade de Hong-Kong foi theatro de pungentes e dilacerantes scenas.

Aqui, era um pai curvado pelos annos que reconhecia entre os vultos desfigurados dos cadaveres o do filho querido, a quem havia horas, considerava seu unico arrimo; mais adiante, uma pobre viuva trazendo pela mão dous filhinhos, levantava seus olhos ao céo para pedir ao Creador coragem e resignação, emquanto as crianças chamavão, em lingua indigena, aquelle que, sem duvida, lhes tinha dedicado seu ultimo pensamento; além, perto dos destroços do vapor Albany, um homem de tez morena com os cabellos em desordem e suas vestes em desalinho, andava a largos passos sobre o caes, gesticulando e fallando em voz alta e em lingua hespanhola, como que ordenando as manobras de um navio em perigo: – era o commandante do Albany a quem a desgraça da vespera tornara louco.