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DA FRANÇA AO JAPÃO

Na vespera da nossa partida visitamos pela ultima vez a cidade chineza, e como tivesse chovido durante toda a noite e prevessemos a influencia da chuva sobre a lama das estreitas ruas dos chins, calçamos nossas botas de montar, mas, nem assim, as nossas vestes sahirão de tal chiqueiro sem serem cobertas de lama; e os chins, quasi que atolados, salpicavão com profusão grossas gotas do pastoso liquido sobre as vestes dos seus proprios mandarins.

No dia seguinte, pela manhã, embarcamo-nos a bordo do navio que devia levar-nos a Europa.

La Provence é um velho, porém commodo paquete das Messageries maritimes; o seu commandante era um bravo e delicado cavalheiro, que havia trinta annos vivia sobre as ondas.

Partindo de Shangaï chegamos depois de quatro dias a Hong-Kong, onde demoramo-nos um dia; sete dias depois abordavamos a Saigon, e no fim de cincoenta dias de viagem, depois de termos aportado em Sincapura, Ceylão, Aden, Suez, etc., chegamos á bella cidade de Napoles, exhaustos de forças pelas fadigas de uma longa viagem de mar, ainda que, fortemente impressionados com o que tinhamos visto nos paizes do Oriente.

Nos pareceu que tinhamos vivido varios annos durante os nove mezes que estivemos ausentes da Europa; e se uma longa viagem apresenta muitas vezes inconvenientes, é no mór numero dos casos, a mais instructiva e salutar distracção, das que o homem póde, sem prejudicar o proximo, gosar durante o curto tempo que vivemos.

Se podessemos, percorreriamos tantas vezes todos os mares e todos os paizes, que traçariamos em nossa marcha, pelas terras e mares, todos os circulos que vemos das espheras terrestres.

E, se assim fizessemos, só o leitor seria prejudicado em seus preciosos momentos de ocio, pelos numerosos volumes que entregariamos a mercê de sua avida curiosidade.