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DA FRANÇA AO JAPÃO

A vida política e social nos antigos tempos, não era sem duvida isenta das pequeninas miserias que, ainda em nossos dias, tanto affligeam os historiadores e os criticos; sempre faceis, em expôr os seus adversários n’um immortal pelourinho de infamia, e em exalçar os simples feitos dos seus protectores e amigos, sacrificando assim, ao seu epicurismo, a dignidade propria e a verdade da historia.

Porém deixemos de fallar das mazellas de alguns dos nossos escriptores contemporâneos, que a cada momento se deixão surprehender e retratar ao vivo nos seus escriptos, para descrevermos este solo que foi o imperio dos deoses semi-deoses e heróes.

Amrou o primeiro conquistador arabe do Egypto assim o pintava ao califa Omar:

«Imaginai um arido deserto e uma magnifica campina entre duas montanhas: uma, tendo a forma de uma collina de areias, e a outra, a do ventre de um cavallo hectico ou do dorso de um camello. Eis o Egypto.»

Estas poucas palavras dão uma perfeita idéa do solo egypcio.

É no meio deste valle que corre com magestade o rei dos rios africanos, rico quando em certa epocha do anno recebe o tributo dos subditos, para com liberalidade fertilisar o arenoso solo Egypcio.

Herodoto diz que este paiz é um producto do Nilo; e, na verdade, seria um dos mais estereis e inhabitaveis do Globo se a superficie de grande parte do seu solo, não fosse coberta pelo limo fertilisador d’este rio. Então, esta vasta planicie de areia cobre-se com luxuriante vegetação, e tornada de prodigiosa fecundidade, permitte tres colheitas até nova volta das aguas.

Todos os recursos possíveis são empregados pelos naturaes, para augmentar a area innundada, e, para isso, importantes trabalhos forão executados, de modo que as aldeias e cidades ficão em secco, durante a innundação, e se commu-