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De Magistro


Juntamos a nós o menino Adeodato, filho carnal de meu pecado. Aquele que muito bem me transformou. Com quase quinze anos e grande talento estava adiante de muitos homens idosos e doutos(...) Existe um livro nosso que se intitula De Magistro, onde ele dialoga comigo. Sabeis que todas as apreciações que ali se inserem, são atribuídas ao meu interlocutor, quando contava com dezesseis anos. Nele observei coisas ainda mais prodigiosas...[1] (m.t.) (in CONFESSIONVM Liber XIII - IX 6.14).


No diálogo, o pai, professor de retórica durante a juventude, enceta uma análise ampla que envolve a linguagem e o signo, o significado dos signos, as palavras como signos e, os objetivos da linguagem, todos evidenciados na gramática e na semântica. Para tanto, o retor parte do inferior para o superior, do exterior para o interior e, nesta interioridade antevê o encontro com o verdadeiro Mestre, o único a ensinar a verdade das coisas; foco este determinante na definição do nome da obra, retirado da Sagrada Escritura: [...] vós não vos façais chamar mestre, porque um só é vosso Mestre, e vós sois todos irmãos[2] (Mt 23.10).

Agostinho, no diálogo, partiu de um argumento retirado do Mito de Er, o qual serve a Platão para explanar sua Teoria da Reminiscência, que pressupõe um saber inato, do qual o conhecer se dá no rememorar; a conhecida anamnese platônica (PLATÃO in Diálogos LIVRO X, 1971).

Agostinho concorda parcialmente com reminiscência platônica ao admitir que as verdades não sejam transmitidas, mas rememorizadas.

  1. Adiunximus etiam nobis puerum Adeodatum ex me natum carnaliter de peccato meo. Tu bene feceras eum. Annorum erat ferme quindecim et ingenio praeveniebat multos graves et doctos viros. Est liber noster, qui inscribitur de Magistro: ipse ibi mecum loquitur. Tu scis illius esse sensa omnia, quae inseruntur ibi ex persona conlocutoris mei, cum esset in annis sedecim. Multa eius alia mirabiliora expertus sum.
  2. [...] nec vocemini magistri quia magister vester unus est Christus.