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Santo Agostinho

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autoridades que nos transmitem os divinos mistérios[1] (in DE BEATA VITA Liber I — 1.4).

Agostinho, no entanto, tinha reservas à teoria de Plotino, principalmente a respeito do dogma da encarnação e ressurreição de Cristo, que para ele era, ao mesmo tempo, homem e Deus, o Verbo seria criador de si e seu filho Cristo, nada mais seria que o verbo encarnado, a fala de Deus feita homem:


Da mesma forma li nesse lugar que o Verbum de Deus não nasceu da came, nem de sangue, nem da vontade do homem, mas de Deus. Porém, que o Verbum tenha se feito homem e habitado entre nós, lá isso não li[2] (in CONFESSIONVM Liber XII — IX.14).


As Enéadas principalmente, levaram Agostinho a entender o princípio da substância una e imaterial, contraditória à concepção material e dual presente no emanatismo maniqueísta. Por elas, teve noção da precariedade de seu racionalismo e pôde perceber o erro em que incidia o maniqueísmo ao impor materialidade à existência de Deus. À idéia de substância espiritual presente no homem, até então desconhecida de Agostinho, apresentava um novo juízo à afirmação: O homem foi criado por Vós a vossa imagem[3] (in CONFESSIONVM Liber VI — III.4).

Tal constatação levou-o a combater o maniqueísmo em inúmeras obras posteriores: De Utilitate credendi ad Honoratum teber uns; Contra Epistolam Manichaei quam vocant Fundamenti liber unus; Contra Adimantum Manichaei discipulum tiber wunus; Contra Faustum Manichaeum libri triginta tres; Contra Felicem Manichacum

  1. Lectis autem Plotini paucissimis libris, cuius te esse studiosissimum accepi, collataque cum eis, quantum potui, etiam illorum auctoritate qui divina mysteria tradiderunt [...]
  2. Item legi ibi, quia uerbum, deus, non ex carne, non ex sanguine, neque ex uoluntate uiri, neque ex uoluntate carnis, sed ex deo natus est; sed quia uerbum caro factus est et habitauit in nobis, non ibi legi.
  3. [.] tamen fecisti hominem ad imaginem tuam...