Então ah!, o preso, deu um salto da cama, arrancando ao marinheiro a arma num súbito ataque, bateu a porta rápido e, segurando-o pelo gasnete:
— Vais responder, agora. Anda, depressa. Responde! Faze sinal que sim! Faze sinal ou morres!
Uma luta travou-se. O marinheiro era um caboclo enorme. Prendera a mão que apontara o revólver e com a outra arrumara um soco à cara do preso. Mas Godard sentia decuplicadas as forças. Com a mão livre atirou-se ao sabre do marinheiro. O outro desviou. Caíram ambos tropeçando num jarro. Godard parecia um florete; o marinheiro era uma torre. O fragor de luta chegou até nós. Corremos à cabine. A voz de Godard bradava:
— Fala, responde, dize qualquer coisa. Cachorro! Cachorro! Responde-me! E móveis caíam, os corpos rolavam.
— É o Godard! Precisamos abrir.
— Está fechado!
— Abre-se a machado!
— Eu abro se me falarem, berrava de dentro Godard, eu abro se me falarem! Digam: Godard abre! para mostrar que eu não estou morto, que eu vivo, que eu sou Godard!
Ah! bandido! Que pensava ele, o infame? Os machados caíram na porta violentamente, fazendo saltar a fechadura, e por diante de nós saltou brandindo o sabre, nu, com a cara em sangue, os cabelos empastados, Arsênio Godard.